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O hábito faz o monge?



Diz um ditado popular que o hábito faz o monge, em que a interpretação mais comum diz respeito ao julgamento que fazemos de uma pessoa com base na aparência. Mas se esse conceito é universalmente aceite (se bem que nem sempre praticado, mas isso é para outro fórum), o que diríamos se ao hábito nos referirmos não à batina mas às rotinas? Será que as rotinas fazem o indivíduo?


As rotinas são, em grande medida, criadas por quem as pratica, de uma forma mais ou menos consciente, e nesse sentido diríamos que "o monge faz o hábito". Efetivamente, o livro "O Poder do Hábito" de Charles Duhigg aponta como consensual que as rotinas têm origem num mecanismo de Gatilho-Rotina-Recompensa que leva o indivíduo ao reforço de um determinado comportamento.

“Todos começam com um padrão psicológico. Primeiro, há uma sugestão, ou gatilho, que diz ao seu cérebro para entrar em modo automático e desdobrar um comportamento. Depois, há a rotina, que é o comportamento em si. (...)„

- Charles Duhigg


A repetição cria reforços neurológicos que transformam uma prática inicialmente penosa, como tocar piano, correr no despontar da manhã ou falar japonês, em algo natural e "automático". Segundo o autor, esse é mais um mecanismo da nossa fantástica mente que reverte algo de repetitivo para um nível de inconsciência tal que nos permite libertar o intelecto para outras solicitações. E a consequência é que a tarefa se torna extremamente fácil enquanto se enraíza em nós, como um calo. Com a repetição passamos a músicos, a corredores e a poliglotas e "o hábito faz o monge".


Se assim é, somos todos responsáveis, em última análise, pelos comportamentos que exibimos. Não há refúgio no ambiente, na sociedade, na educação. Não interessa se um comportamento é inato ou adquirido.


Se assim é, então é também possível alterarmos voluntariamente padrões comportamentais, agindo sobre o "gatilho" ou o "catalisador" e proporcionando uma "recompensa" em consequência do novo comportamento.


É o monge que faz o hábito mas é o hábito que faz o monge.

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