Sei que a palavra auditoria vai afugentar até os praticantes Lean mais abertos, por isso proponho que tomemos a expressão ciclo de melhoria...
Vou deixar para trás ponderações como a das virtudes do trabalho padronizado e partir do pressuposto que não o questionamos como pedra basilar do sistema Lean. Proponho ainda ter presentes dois outros dogmas: que a melhoria é infinita e que todos, no gemba são chamados a participar nela.
E assim construo a defesa das auditorias de processo como forma de, numa penada, garantir tudo isso: o rigor da observação do trabalho padronizado, a sua melhoria contínua e a participação do chão de fábrica.
Concebamos então que a "auditoria" é feita num tom inquisitivo mas nunca inquisitório, visualizemos o auditor a observar com dedicação o posto de trabalho e a comparar a execução das tarefas com a descrição contida na "norma", seja ela da construção do posto e da sua envolvente (códigos de cor, sistemas de segurança; identificação dos componentes, etc), seja na instrução de trabalho posta ao dispor do operário.
Tomemos então o caso em que um desvio ao processo é identificado: uma sequência invertida, por exemplo:
- Porque montaste essa peça primeiro?
- Porque dá-me mais jeito.
- Porque é que te dá mais jeito?
- Porque evita que esteja no caminho quando introduzo este outro.
- Podes mostrar-me?
- Claro...
Suponho que qualquer um de nós imagina facilmente 2 desfechos para esta conversa: ou o processo agora observado tem consequências que escapam ao operador que terão de lhe ser explicadas enquanto ele apreende a importância de seguir o padrão estipulado; ou o auditor se dá conta de que o método observado tem virtudes na qualidade, na produtividade ou na ergonomia; agradece a sugestão, que regista e presta-se a fazer a alteração nas instruções de trabalho, a comunicar com a equipa do gemba.
Neste processo, envolverá também os técnicos de métodos que desenharam o processo, que por sua vez poderão entender toda a extensão da oportunidade para voltar a balancear a linha de produção em causa enquanto que não deixarão de tirar ilações para outros postos, actuais ou futuros.
Assim sendo, uma auditoria, nas mãos de colaboradores de comportamento irrepreensível se transforma numa clássica utilização do PDCA ou do método científico e numa poderosíssima ferramenta de melhoria contínua.
Mas os benefícios não terminam aí e estendem-se a benefícios mais intangíveis e não menos relevantes ao nível do comportamento das equipas e dos indivíduos que as compõem.
Outros recursos:
https://www.lean.org/balle/DisplayObject.cfm?o=2204
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